Nosso tempo, para aqueles com espírito de aventura, pode nos parecer o pior dos tempos. O desejo de conhecer algo exótico e único, esbarra no fato de que não há lugar no mundo que já não foi esquadrinhado, medido, catalogado, colonizado e vendido. Não há mais sonhos de se encontrar Eldorado, Atlândida, dinossauros em lagos escoceses, o mundo se desencantou. Hoje há crianças subindo o monte Everest e fazendo sozinhos a volta ao mundo pelos mares, tudo parece ter ficado tão pasteurizado. Há, como sucedâneo, a imagem criada pela computação gráfica nos dando tudo que nosso desejo quer, até a exaustão e o tédio.
Mas então me deparo com a primeira descrição feita por um Marco Polo fictício sobre a cidade de Diomira, para o Kublai Kan, num livro de Ítalo Calvino, "As Cidades Invisíveis". Sua descrição é antes uma inversão do olhar. Descreve com desdem o que nossos olhos teriam avidez para ver: um teatro de cristal, um galo de ouro que canta, setenta cúpulas de prata.
"Todas essas belezas o viajante conhece por tê-las visto em outras cidades"
Então, Marco Polo expõem o que há de fantástico naquele lugar: a lembrança de uma noite de amor.
A inversão de um fantástico exterior de imagens sólidas à experiência pessoal unica repõem no mundo a possibilidade do maravilhamento. O reencanto não precisa mais, como nos tempos do romantismo, de uma terra longínqua, pode ser encontrado a cada esquina da vida.
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